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A Reforma Tributária chegou para mexer no tabuleiro da economia brasileira
Data: 25 de novembro de 2025

Um debate necessário sobre os impactos do novo sistema tributário para a construção civil
Depois de décadas de debates, idas e vindas no Congresso e pressão do setor produtivo, o país começa a redesenhar a forma como cobra impostos, impactando diretamente empresas, consumidores e a competitividade dos Estados.
Trata-se de uma das maiores mudanças estruturais já realizadas no sistema tributário nacional, com efeitos que começam a aparecer nos próximos anos e ganham força total a partir de 2030. Para quem empreende, produz e constrói, compreender esse novo desenho não é apenas uma necessidade, é estratégia.
Partindo desse princípio, o Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de Passo Fundo e Região (SINDUSCON) promoveu, na segunda-feira, dia 24, uma reunião-almoço em sua sede, reunindo empresários, profissionais da área e convidados para debater os impactos da Reforma Tributária. O encontro contou com a participação do especialista Fábio Ferron, que trouxe uma análise técnica e estratégica do tema.
Ferron é contador, sócio da Planacon e mestre em Administração. Graduado em Ciências Contábeis pela Universidade de Passo Fundo (UPF), possui especialização em Controladoria e Gestão Tributária. Atua como professor na Atitus Educação e, na Planacon, é responsável pela gestão dos setores de Construção Civil e Departamento Pessoal. Sua experiência prática e domínio do cenário tributário brasileiro enriqueceram o debate em um momento decisivo de transição para o setor.
Principais pontos debatidos no encontro
Implementação do IBS e da CBS: impactos e inseguranças para 2026
A substituição de ISS, ICMS, PIS e Cofins por IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) representa uma mudança profunda na estrutura tributária das construtoras. Entre os pontos que podem gerar insegurança estão:
· Necessidade de adaptação de sistemas e controles internos;
· Obrigatoriedade de contabilidade por obra;
· Segregação de receitas;
· Validação rigorosa de fornecedores para correta apropriação de créditos;
· Definição do perfil do cliente como contribuinte ou não;
· Obrigatoriedade da emissão de nota fiscal para todas as empresas a partir de 2026.
Ferron destacou que o primeiro movimento das empresas deve ser a organização para garantir o cumprimento das obrigações fiscais.
Como a implementação do IBS e da CBS deve alterar a estrutura tributária atual das construtoras e quais pontos ainda geram maior insegurança para o planejamento de 2026?
A introdução do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) se trata de uma mudança estrutural para as empresas do ramo da construção civil, pois ela irá substituir o ISS, ICMS, PIS e COFINS.
Alguns dos pontos que podem gerar insegurança nesse novo modelo de tributação para as empresas são a adaptação dos sistemas de controle e gerenciamento interno, pois a contabilidade deverá ser por obra, e a segregação de receitas será obrigatória na Reforma Tributária, lembrando que esse controle tem que comunicar-se com a contabilidade para evitar autuações.
Como os insumos poderão gerar créditos, é importante “validar” os fornecedores para a correta apropriação de créditos tributários e entender quem é o seu público principal, se o cliente final é contribuinte ou não; essas informações auxiliam no planejamento tributário.
A operação principal a ser feita nas empresas nesse momento é a organização para o cumprimento das obrigações fiscais, sendo a emissão da nota fiscal, a qual não éramos obrigados, porém a partir de 2026 se torna obrigatória para todas as empresas.
A reforma tende a simplificar ou aumentar o custo efetivo das obras? Onde estão os principais riscos de alta e onde podem surgir oportunidades de redução?
O intuito da Reforma Tributária é simplificar o sistema tributário, mas não é certo que venha a reduzir de imediato o custo efetivo das obras, pois podem haver alguns fatores que elevem o custo. Fatores estes que devem ser observados pelas empresas do ramo para não elevar o custo e, ao mesmo tempo, podem representar oportunidades.
A empresa deve organizar-se para efetivar os créditos dos tributos dos seus fornecedores, pois caso não tenha êxito, o custo ficará na empresa e provavelmente deverá repassar ao produto. É importante organizar os contratos com os clientes para que mantenham o equilíbrio econômico-financeiro, incluindo cláusulas que considerem os novos tributos.
De que forma a nova lógica de créditos e débitos tributários deve influenciar a formação de preço dos empreendimentos daqui pra frente?
De forma direta e simples, a precificação do custo deixa de ser apenas “custo + margem” e migrará para “custo + margem + tributos”, pois agora o tributo envolve os créditos e débitos. A precificação dentro da Reforma Tributária deverá considerar o fato gerador, o momento da tributação, a expectativa de venda e o perfil do cliente.
A reforma pode alterar a competitividade entre regiões e portes de empresas? E as pequenas construtoras estão mais vulneráveis ou podem ganhar espaço?
Geralmente, onde as regiões estão mais bem estruturadas, a transição de modelo é mais rápida, o que pode gerar algumas vantagens competitivas. As empresas de pequeno porte podem vir a sofrer mais em razão do novo modelo tributário, pois possuem menos recursos para investimentos, sendo entre eles treinamentos e sistemas; menor margem para erro.
Mas o desafio da mudança tributária é para todos os portes de empresas, e quem melhor se adaptar provavelmente ganhará espaço.
Como as mudanças no sistema de créditos tributários devem impactar a relação com fornecedores e o custo dos insumos da construção?
Penso que esse vai ser um dos maiores focos em que as empresas deverão se concentrar, pois caso o fornecedor dos insumos não estiver apto perante a regularidade com o fisco, não gerará crédito tributário, gerando um custo extra para a empresa.
O processo de compras das empresas deverá focar nos insumos com créditos e, para isso, será necessário observar se a nota fiscal está correta. O ponto aqui é que o custo dos insumos deixa de ser apenas “preço unitário + frete + logística” e passará a incluir o “tributo sobre o insumo” e “crédito que posso utilizar”, tornando a cadeia de suprimentos (compras) um ponto estratégico para a empresa.
Quais ajustes imediatos as empresas da construção civil precisam considerar em seus planejamentos para não perder competitividade na virada de 2026?
Antes de pensar no planejamento, o mais importante é organizar-se internamente para a adaptação da emissão obrigatória de notas fiscais, evitando autuações do fisco, pois essa obrigação, até o momento, é prevista para entrar em vigor a partir de 01/01/2026.
Organizado esse processo, devemos pensar a empresa com a chegada do IBS e da CBS. Entre os principais pontos estão: adequar sistemas e controles para apurar tributos por obra; revisar contratos e fornecedores para garantir créditos tributários; simular preços considerando o novo modelo de créditos e débitos; treinar as equipes na governança fiscal.
O SINDUSCON Passo Fundo e Região reforça que seguirá promovendo encontros, debates e ações de capacitação para apoiar as empresas do setor durante a transição para o novo modelo tributário.
A Reforma Tributária representa desafios significativos, mas também oportunidades para quem se preparar. Eventos como a reunião-almoço com Fábio Ferron, contribuem para esclarecer dúvidas, orientar estratégias e fortalecer a competitividade da construção civil na região.
